o silêncio que ecoa: aconteceu!

um ciclo termina, outro se inicia.

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comecei a trabalhar nesse projeto em meados de 2013. ainda era, na verdade, um pré-projeto esperando sua aprovação para se tornar um projeto inteiro. após a aprovação, ele foi sendo gerado. quando começamos um TCC, sabemos que não será fácil. mas o que eu encontrei não foi nem de longe o difícil que achei que fosse encontrar. foi pior. ouvi relatos pesadíssimos. mulheres agredidas, violentadas, com um buraco no peito para todo o sempre. algumas, apesar de continuarem vivas, perderam suas vidas há tempos: não sentem vontade de fazer nada, andam todo dia o mesmo trajeto com uma faca na mão caso encontrem o seu estuprador, não se relacionam mais com homens, não saem de casa. outras continuam vivas, vivíssimas: descobriram no feminismo um apoio, se empoderaram, transformaram a dor em luta. a cada relato que ouvia, um pedaço de mim morria – e, ao mesmo tempo, outra nascia: a vontade de lutar contra o patriarcado, o machismo, a própria cultura do estupro. uma vontade cada vez maior. para que nenhuma mulher passe pelo o que as que entrevistei passaram.

passei 1 ano debruçada sobre o tema. conversando com essas mulheres, tentando ganhar a confiança das mesmas para que elas me contassem suas experiências, entrevistando especialistas, lendo e estudando sobre o assunto, aprendendo a parte teórica sobre a dominação masculina, escrevendo até às 2 horas da manhã, deixando de sair com minha namorada e amigxs, deixando de passear com os meus cães e de ficar de preguicinha com minhas gatas, deixando de limpar a casa quando minha mãe pedia – e chorando, ficando acabada, querendo sair batendo em meio mundo a cada nova página do livro.

na finalização da obra, aquela velha coisa: será que tá bom o suficiente? será que as pessoas vão gostar? será que a minha orientadora e a banca vão aprovar? o frio na barriga só aumentava com a aproximação da defesa da banca.

eis que ontem esse frio na barriga de dissipou. após uma chuva com direito à ventos e trovões dignos de Iansã, minha mãe, defendi meu TCC. nervosa é pouco para definir como eu tava. não parava de andar de um lado para o outro. porém, quando peguei o microfone e comecei a apresentar meu projeto para a plateia, fui me acalmando. claro que não fiquei totalmente zen. acho que é impossível alguém normal ficar totalmente zen ao defender seu TCC sem usar nenhuma substância que altere seu estado de consciência. conforme as convidadas e o presidente da banca foram fazendo seus comentários, meu coração foi acelerando: caraca, estou ouvindo elogios dessas três pessoas incríveis!

não, meu projeto não tá perfeito! ouvi com carinho todas as observações – e como quero publicar o livro, anotei todas e trabalharei em cima dos principais pontos citados.

após todas as considerações, as perguntas: eu seria aprovada? qual seria minha nota? pareceu uma eternidade, apesar de terem sido poucos minutos. APROVADA, COM NOTA 10!

acredito que, como disse na apresentação, entre erros e acertos, consegui atingir meu objetivo: produzir uma obra que estimulasse o debate sobre a mulher na sociedade, sobre como atitudes machistas são vistas como normais, sobre como o empoderamento feminino é importante para não aceitarmos a violência que sofremos no dia a dia, seja em casa, na rua, no trabalho, no transporte público.

dedico essa conquista à todas as mulheres que já passaram por algum tipo de constrangimento pelo simples fato de ser mulher. um agradecimento especial à todas que tornaram essa obra possível, à minha orientadora Juliana Ser, ao presidente da banca Luis Mauro Sa Martino e às convidadas Bianca Santana e Andrea Dip.

a todxs que estiveram presentes, Dani Rissi, Jéssica Inah Massonetto,Ana Carolina De Souza Matsuzaki, Palloma Souza, Ana Baderna, Thii Martins, Andreza Delgado, André Ciola, Letícia Dias, Giovani Faccioli, e outrxs que não tenho aqui, gratidão.

ao contrário da faculdade, meu projeto não se encerra aqui: ele tá só começando! portanto, para quem quiser continuar acompanhando, criarei uma página aqui no Facebook para troca de ideias. novidades em breve!

para que toda mulher possa sair na rua sem sentir medo, para que toda mulher tenha voz, para que toda mulher seja dona do próprio corpo, para que toda mulher seja LIVRE.

gratidão, gratidão, gratidão!

o silêncio que ecoa: aconteceu!

tchau, seu Cásper!

cheguei às 17h24. aflita, nervosa, com aquele frio na barriga que não passava. um cigarro, dois cigarros, três cigarros. até que ela veio. o céu escureceu e ela caiu. não aos poucos. forte mesmo. Iansã com seus ventos e trovões anunciaram, naquele momento, que a noite não seria fraca.

entrei naquele prédio com uma sensação estranha: seria uma das últimas vezes que entraria ali. e, talvez, a mais importante delas. o frio na barriga não passava. peguei o elevador, desci no 5º andar. fui ensaiar, para o auditório vazio. eu ainda tremia.

mas pouco antes da defesa em si, pensei no por quê estava. escrevi um livro-reportagem sobre a cultura do estupro, para que as mulheres se empoderem, para que o machismo seja combatido, para que o patriarcado seja destruído. perto dessa proposta, qualquer sinal d nervosismo soaria bobo. então, quando comecei a falar no microfone, as mãos foram parando de suar aos poucos – mas não pensem que me livrei totalmente do nervosismo, afinal, sou boba mesmo.

após a minha fala, explicando meu projeto, comentando sobre o meu livro-reportagem, foi a vez da banca. andrea dip, jornalista, foi a primeira. bianca santana, professora da cásper líbero, a segunda. por último, como presidente da banca, luis mauro. e para o meu êxtase, todos falaram bem do meu trabalho. fizeram, claro, considerações e observações, as quais acatarei quando for publicar a obra por alguma editora que aceite o trampo.

saíram da sala para avaliar e dar a nota. voltaram. APROVADA. APROVADA. APROVADA. COM NOTA 10. COM NOTA 10. COM NOTA 10.

eu mal cabia em mim!

ontem foi um dos meus últimos dias na Cásper. e não poderia ter saído de lá mais feliz ♥

tchau, seu Cásper!

a vida é bélica II

Assim como as milhares de galáxias do Universo que se expandem e se retraem, em contínuo movimento, Coraline não conseguia aquietar-se. Tudo se mexia – apesar dela não querer se mexer. Queria mesmo era se fechar em um casulo por tempo indeterminado. Nem borboleta ela queria ser. Tudo transbordava. Tudo, tudinho. Era tanto sentimento que ela não sabia o que fazer com todos eles. Com tantos deles. Não tinha um único pequenininho. Eram todos imensos. Nem colocá-los em seu diário estava resolvendo: não diminuíam.

Foi aí que ela teve uma ideia: e se pudesse fazer com que eles fossem de outra pessoa? Não, não se tratava de inventar múltiplas personalidades. Era mais como… inventar personagens para si mesma. Coraline não sabia nem sequer como colocar tanto sentimento no papel. Mas Alice, por exemplo, saberia. Foi assim que Coraline começou a escrever: a partir da visão de Alice.

E não é que ela conseguiu? Ao se colocar para fora de si mesma, as palavras vieram. Ela sabia que Alice, na verdade, era uma parte dela. Talvez só assim a gente consiga resolver algumas coisas: externando elas. Olhando de fora – e ao mesmo tempo de dentro. Mas melhor não explicar muito: a própria Coraline já estava se perdendo tentando explicar esse desdobramento. Deixemos as explicações para lá. Voltemos ao que importa: os sentimentos.

Ainda estavam lá, é claro. Fazendo barulho, muito barulho. Grandes, grandões. Mas, ufa, ela havia conseguido transformá-los em algo. Tem gente que pinta seus sentimentos, gente que canta seus sentimentos, gente que compõe seus sentimentos… Coraline descobriu que era do time dos que escrevem.

“Alice estava em seu quarto. Não sabia se era dia ou noite. Ou mesmo se estava realmente em seu quarto. Aliás, aquele era seu quarto? Mas de uma coisa ela tinha certeza: estava viva. Sentia em si todos os sentimentos do mundo. Mas o problema não era necessariamente SENTIR todos eles. O problema estava no TAMANHO. Ocupavam o quarto (?) inteiro. Não cabiam nela”.

Alguma dúvida de que Alice é nossa Coraline? Repito: é mais fácil assim. Enquanto escrevia, eles (os sentimentos) pareciam se acalmar. Mas era só voltar a si mesma e não a si-mesma-como-personagem que eles pareciam voltar a lhe sufocar. Aquele se tornou seu escape. Ali se sentia segura. Alice entendia! Alice sentia o mesmo que ela. Agora Coraline tinha seu próprio mundo das maravilhas. Um dia ainda gostaria de perguntar ao Sr. Carroll por que ele usou essa palavra. Seu mundo e o de Alice não eram tão maravilhosos assim.

a vida é bélica II

a vida é bélica

a Lua minguante já não estava visível (dizem que a Lua em sua fase minguante pode sugerir alguma desarmonia emocional e atos contraditórios). o dia começava a clarear. Coraline acordou diferente. o que era aquele sentimento? não quis voltar a dormir – e ter novos pesadelos –, mas a realidade também não a confortava. fechou os olhos por alguns segundos, sentiu um torpor invadir todo o seu ser. tudo doía, girava, desencaixava, rasgava. optou por manter os olhos abertos. tudo ainda doía, girava, desencaixava, rasgava. ainda assim, os monstros não pareciam menos reais do que em seus pesadelos. descobriu que não se tratava sobre estar dormindo ou acordada: eles estariam ali de qualquer maneira, seja de olhos (bem) fechados ou abertos. “conviver”, pensou. teria que aprender a conviver com eles – até que tivesse força o suficiente para eliminá-los para sempre. “mas será que alguém já conseguiu eliminar um monstro para sempre?”, questionou. ah, os monstros! eles sempre vêm e vão. a gente cresce e eles só mudam de forma, não é, Coraline? “antes eu tinha medo do bicho papão. hoje o bicho papão se transformou em algumas pessoas, e, de certa forma, em mim.”, continuou a questionar. Coraline chegou à conclusão de que o maior bicho papão era ela mesma.

a vida é bélica

júpiter em leão

júpiter havia entrado em leão. mesmo assim havia apenas estupidez (e cólica menstrual). indo e vindo, como um monstrinho diabólico arranhando-a por dentro, de tempos em tempos. sem conseguir se livrar da aberração, se curvava para tentar sofrer menos. não que adiantasse muito. quando pensava que ele finalmente havia ficado grato por ela se curvar, o maléfico voltava a atormentar. há dois dias tem sido assim. há sangue, muito sangue, por todos os lados. ela não está muito bem.

júpiter em leão

1 ano sem a mamãe Giovana

há exatamente 1 ano a mamãe Giovana nos deixou. dias antes, passei alguns dias com ela no hospital, indo pra casa apenas pra dormir. assistíamos TV, conversávamos, falávamos sobre a vida… mas sabíamos que a morte estava por perto. apesar de toda a fé, de toda a esperança, sabíamos que não demoraria muito para ela descansar. um dia antes, os nenês foram visitá-la no hospital. não era dia de visita, mas minha mãe insistiu para que a enfermeira deixasse todo mundo entrar. foi o último dia antes da mamãe Giovana partir. lembro até hoje da minha mãe me ligando de madrugada para contar. não dormi, não conseguia dormir: tudo o que eu conseguia fazer era chorar. até que deitei no sofá e minha cachorra e minha gata vieram deitar em cima de mim. acabei adormecendo.


foi tudo tão rápido, a descoberta da doença, a quimio, as metástases, as internações… apenas 2 anos após realizar o sonho da sua vida – ser mãe – , mamãe Giovana já não estava mais com a gente. quem te acompanhou e esteve ao seu lado sabe como foi difícil – nunca é fácil. com a gravidez de risco e a perda da Fezinha com apenas 7 dias achávamos que já tínhamos passado por muita coisa. nos enganamos, é claro. de alguma maneira, o Universo nos preparou para cuidarmos dos seus nenês. 


minha mãe estava lá quando ela se foi e suas últimas palavras foram “eu estou tranquila, vocês vão cuidar bem dos nenês”.
hoje eles estão com 3 anos e acho que estamos fazendo um bom trabalho. a cada sorriso e a cada novo passo deles, sua presença está ali. mamãe Giovana pode ter nos deixado fisicamente, mas vai estar pra sempre com a gente na memória e no coração.


jamais poderíamos imaginar que você nos presentearia com dois molecotes lindos. agora temos uma responsabilidade grande: criar os nenês para esse mundão. a cada dia eles me ensinam coisas novas. a cada dia eles aprendem coisas novas. é incrível acompanhar esse processo, estar presente todo dia na vida desses pequenos. obrigada pelo presente, tia.


termino de escrever com a garganta seca e os olhos cheios de lágrimas. lágrimas de quem esteve ao seu lado e agora está ao lado dos nenês. porque só assim para saber como é difícil. só assim para saber o quanto doeu e ainda dói. porque daí de onde cê tá, tenho certeza que cê deve tá rindo demais de certas coisas/pessoas.


aqui, um memorial virtual: http://giovana.inoue.muchloved.com/

te amamos para todo o sempre e além, mamãe Giovana ♥

1 ano sem a mamãe Giovana

NÃO VENHA TIRAR MEUS PRIVILÉGIOS!

b7bcf71f87f452b0c1f6b5e2ed944f98– Ô gostosa!

– Que delícia, hein?!

– Essa aí é para comer e repetir o prato!

Alguém pode me explicar como uma mulher pode não gostar de receber um elogio? Certamente são as feministas mal comidas que colocam essas coisas na cabeça das mulheres. Essas feministas vadias lésbicas feias mal comidas peludas.estão tentando acabar com a reputação masculina. Elas ainda não entenderam que temos o direito de dizer/fazer tudo o que quisermos para uma desconhecida na rua. Ou no trabalho. Ou na balada. Ou em um foguete espacial com destino a Marte.

Ser homem já não é fácil e agora aparece um monte de mulherzinha fazendo campanha contra os assobios e cantadas que nós usamos desde que nos entendemos como seres másculos e viris. Como se isso não bastasse, agora elas acham que podem usar roupas curtas e provocativas dentro do transporte público e não serem encoxadas. Será que elas não sabem que nós não conseguimos nos controlar? Homem pensa com a cabeça de baixo e ponto final. Elas que andem de burca. Hum, se bem que eu ficaria excitado só de pensar no que ela pode estar escondendo debaixo de tanto pano… Ah, elas que andem em vagões separados!

Outra prova de como estamos nos fins dos tempos é essa tal de Marcha das Vadias. Ouvi dizer que vai acontecer dia 24 de maio, com concentração no MASP, às 11 horas. Anotei os dados certinho para chegar lá e ver um monte de peitinho. É, elas tiram o sutiã, ficam quase nuas – e acham ruim quando olhamos com desejo, pode uma coisa dessas?! Mas eu tenho um truque: vou fingir que sou feminista. Quem sabe até consigo apertar umas tetinhas?!

Essas tais feministas estão dizendo que a marcha é contra a cultura do estupro. Nunca entendi direito. Se a menina bebeu demais e abusaram dela, é óbvio que a culpa só pode ser dela. Se usou roupa curta, é porque estava querendo. Se voltou sozinha e tarde para casa é porque é uma puta procurando, literalmente, se foder. Não é difícil entender: não somos nós, homens, os culpados. A culpa é sempre da vítima, jamais do agressor. Se ele agrediu, é porque ela mereceu. Até porque, na maioria das vezes elas não falam nada. E todo mundo sabe que quem cala consente.

Não sei por que elas continuam lutando contra uma coisa tão natural. Nós, homens, nascemos para dominar. O topo da cadeia alimentar pertence a nós. É tudo nosso, saca? Essas aí tem que é procurar o lugar delas no mundo. Porque o nosso já está bem definido e não vamos abrir mão dele por essas feministas vadias lésbicas feias mal comidas peludas.

NÃO VENHA TIRAR MEUS PRIVILÉGIOS!