“O mundo é pequeno para os nossos sonhos
Para alguns são sonhos loucos
Mas em nosso mundo tudo pode acontecer
É só crer pra ver que a gente pode fazer tudo mudar
Nossa vida é uma loucura
Vamos beijar, viajar pra qualquer lugar
Tomar no !#*♥…?!
Arranjar um trampo, trabalhar
Sair por aí: revolucionar
Andar de skate: voar
Nossa própria banda: tocar
SE TUDO DER CERTO NINGUÉM VAI NOS SEPARAR
Saindo do controle a gente se sente melhor
Achar nosso lugar ao sol
Viver num mundo em que te fazer se sentir presa não é fácil
MAS TUDO MELHORA TENDO VOCÊ AO MEU LADO”
Ela escreveu isso pra mim exatamente às 22h05, do dia 30/03/2005. Faz quase 7 anos. E amanhã fará 1 ano que ela partiu. A ficha ainda não caiu, sabe? Parece que ela apenas foi viajar para algum lugar distante e em breve retornará. Na verdade, essa ideia não é tão absurda assim, afinal, guardo dentro de mim a certeza de que ainda nos reencontraremos um dia.
Parece que foi ontem que recebi a notícia da morte dela. Eu estava no salão de casa, passando esmalte enquanto meu pai fazia churrasco e bebia cerveja com meus tios. Minha irmã atendeu o telefone e me deu a notícia. Minha respiração parou. Meu coração oscilava. Uma cachoeira de lágrimas desciam pelos meus olhos e mantinham um grito preso em minha garganta. Eu estava perplexa. Não conseguia acreditar. Parecia tão irreal a morte dela. “Ela estava atravessando a rua quando um ônibus veio e a atropelou. Ela morreu na hora”. Eu não aceitava aquelas palavras. Como aceitar palavras tão cruas, tão doloridas?
O corpo só seria liberado na manhã seguinte. Não consegui dormir aquela noite. Fiquei remoendo em minha mente a nossa história durante dias.
Nos conhecemos na escola, não lembro ao certo se na primeira ou segunda série. Lá pela sétima série começamos a nos tornar inseparáveis. Gostávamos dos mesmos caras, das mesmas bandas, dos mesmos autores… Meu primeiro show foi ao lado dela. Fazíamos vários planos para mudar o mundo. A irmã mais nova dela também era a melhor amiga da minha irmã mais nova. Escrevíamos cartas e músicas uma para outra. Íriamos criar nossos filhos juntos. Ela teria a Júlia. Eu teria o Theo.
Mas há uns três meses antes da morte dela, tivemos uma briga feia. Não estávamos nos falando quando ela se foi. Uma briga, que olhando agora, foi estúpida. Não conseguia me conformar por ela ter partido sem que tivéssemos feito as pazes. Me sentia culpada. Me sentia a pior pessoa do mundo. Eu só conseguia chorar. Eu chorava desesperadamente. Tudo o que eu queria era voltar atrás, pedir desculpas olhando nos olhos dela e ganhar um sorriso e um abraço sincero. Nada mais, apenas isso.
No velório e no enterro, reencontrei os amigos da época da escola. Eles me trouxeram um pouco de paz. A imagem dos pais dela era a imagem mais desoladora. Eles estavam em choque. No caixão, ela estava com uma espressão serena, inspirando calma e tranquilidade. Mas meu coração não se aguentava dentro do peito. Uma dor indescritível tomava conta de mim.
Os dias seguintes não foram diferentes. Ela não saia do meu pensamento. Aliás, desde que ela se foi, não passo um dia sequer sem lembrar dela. É uma saudade que não tem fim e aumenta cada vez mais.
Passei a encontrá-la sempre nos meus sonhos. Um sorriso lindo de se observar. Todas as vezes que a encontrava, conversávamos sobre assuntos banais e nos abraçávamos bastante, eu ficava com uma vontade imensa de dizer a ela que sentia muito, mas não conseguia. Ontem isso mudou. Assim que nos encontramos, ela me deu um abraço delicioso, meus olhos se encheram de lágrimas e eu pedi desculpas, dizendo que a amava muito e que nunca tinha deixado de amá-la. Ela olhou dentro dos meus olhos como se pudesse ver a minha alma e disse que sabia, que eu não precisava me preocupar e o amor dela por mim sempre esteve vivo também. Acordei sentindo uma alegria imensa e um calor gostoso no peito. Ainda conseguia sentir os braços dela ao meu redor. A presença dela era real e intensa. Hoje posso dizer que não me culpo mais. E que aprendi a lição: brigar para quê, se é sem querer?
Agradeço todos os dias por ter tido uma pessoa como você na minha vida. Que me ensinou tantas coisas, chorou, riu, cantou, caiu e levantou tantas vezes junto comigo. Meu amor por você nunca se apagou. Posso te sentir dentro de mim e ao meu redor. Você esteve e estará sempre presente. Te amo e… até breve.