all off jazz, um barzinho intimista na região da vila olímpia. cervejas, tequilas, conversas animadas. um pouco antes de irmos embora, começa a tocar madeleine peyroux. vejo um cara com idade pra ser meu avô, cantando e bebendo seu whisky. de chapéu e terno, no melhor estilo jazzístico. “essa música é perfeita na voz dela, né?”, foi o que perguntei. “ainda prefiro na voz do bob dylan”, foi a resposta dele, com a voz rouca e grossa que eu já havia imaginado que ele teria.
– gosta do dylan? – ele emendou.
– pra caramba.
– mas ainda assim prefere na voz dela?
– sim.
– quem tá indo embora?
– hein?
– você prefere na voz dela certamente porque se identifica mais.
eu fiquei sem palavras. ele continuou:
– não precisa responder. foi uma pergunta que você pode responder apenas para si mesma.
continuei sem palavras, querendo escapar daquela situação.
– desculpa, sei que é uma conversa desconfortável, mas seus olhos dizem que você anda confusa. põe a cabeça no lugar. deixa seu coração te dizer o que é certo ou não. deixa estar que o que for para ser vigora.
e saiu, sem dizer mais nada. fiquei ali, parada, sem reação, pensando naquela situação – no mínimo – estranha.
“vamos, gra”, a voz da dany me chamando pra ir embora me tirou daquela catarse.
fui para casa com a madeleine peyroux na cabeça: ” you’re gonna make me wonder what i’m doing, staying far behind without you, you’re gonna make me wonder what i’m saying, you’re gonna make me give myself a good talking to”…
não sei quem era aquele cara. mas de alguma forma, ele soube quem eu era naquele momento.